Boletins

  • novembro 2025 | número 2

    Monitoramento da Exportação de Animais Vivos do Brasil


    Dez anos do naufrágio do navio Haidar

    No mês de junho de 2025, eu, Rafael Van Erven Ludolf, estive em São Sebastião, São Paulo, para acompanhar o embarque de milhares de bois no navio North Star I, e tive a oportunidade de conversar com moradores, ativistas e representantes de comunidades diretamente afetadas pela atividade portuária. Eu vi, com meus próprios olhos, a menos de 1 metro de distância, as condições degradantes dos animais dentro dos caminhões, na entrada do Porto. Ao final, você poderá ler o “Relato de Campo: o que vi no Porto de São Sebastião”.

    Antes disso, o boletim abre com o item “Dez anos do naufrágio do navio Haidar: uma ferida aberta na história da exportação de animais vivos no Brasil”, que revisita a tragédia ocorrida em Barcarena (PA) em 2015. O episódio, que vitimou cerca de cinco mil bois e contaminou ecossistemas costeiros e comunidades ribeirinhas, segue como símbolo dos riscos éticos e ambientais inerentes à exportação de animais vivos.

    Em seguida, apresentamos uma entrevista exclusiva com o Promotor de Justiça Márcio Silva Maués de Faria, titular da 1ª Promotoria de Justiça de Meio Ambiente, Defesa Comunitária e Cidadania de Barcarena (MPPA), que tem atuado ativamente na fiscalização da exportação de gado vivo a partir do Porto de Vila do Conde, no Pará. Sua atuação envolve a apuração da origem ambiental dos animais embarcados, com foco em possíveis irregularidades fundiárias, ambientais e sanitárias.

    O boletim também dá continuidade à seção “Mais portos, mais impactos”, destacando a ampliação da exportação de animais vivos para novos estados e espécies, e à seção “Medidas contra a exportação de animais vivos”, que organiza uma linha do tempo das mobilizações mais relevantes de 2025 — a partir do marco do Dia Internacional contra a Exportação de Animais Vivos.

    Assim, este segundo boletim reafirma o compromisso do Monitoramento com a produção de conhecimento público, interdisciplinar e comprometido com uma perspectiva de justiça e moralidade inclusiva aos seres não humanos.

    Boa leitura!

  • julho 2025 | número 1

    Monitoramento da Exportação de Animais Vivos do Brasil


    Um panorama geral

    A exportação marítima de animais vivos é uma das práticas mais controversas do agronegócio. Envolvendo o transporte de milhões de indivíduos animais por longas distâncias em condições frequentemente degradantes, essa atividade mobiliza, hoje, debates éticos, jurídicos, sanitários, ambientais e sociais em diversos países. Apesar da crescente oposição internacional — que já levou à proibição dessa prática em países como Nova Zelândia, Reino Unido, Índia e Luxemburgo — o Brasil segue como um dos maiores exportadores de sujeitos bovinos vivos do mundo, com operações em expansão.

    Diante da carência de estudos científicos, da escassez de dados públicos acessíveis e da urgência dos impactos socioambientais causados por essa atividade, nasce o projeto Monitoramento da Exportação de Animais Vivos do Brasil, desenvolvido por Rafael van Erven Ludolf, no âmbito do “Pós-Doutorado Nota 10” (Edital nº 17/2024) financiado pela FAPERJ – Fundação Carlos Chagas Filho de Amparo à Pesquisa do Estado do Rio de Janeiro (Processo SEI-260003/001285/2025), sob supervisão da Professora Maria Clara Dias, vinculado ao Programa de Pós-Graduação em Filosofia (PPGF) da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ).

    O objetivo do projeto é monitorar, analisar, gerar e divulgar informações sobre a exportação de animais vivos do Brasil, para servir de base para políticas públicas, pesquisa acadêmica e tomada de decisões em diversas esferas. A abordagem é interdisciplinar, abrangendo discussões da bioética, ética aplicada, saúde coletiva, ética ambiental, ética animal, direito animal, estudos críticos animais, decoloniais e outros, e envolve pesquisa de campo para registro das condições de transporte dos animais e seus impactos socioambientais, nos portos brasileiros autorizados a exportar animais vivos.

    Como caminho teórico-metodológico, adotou-se a Perspectiva dos Funcionamentos (PdF), da Professora Doutora Maria Clara Dias, orientadora/supervisora deste projeto, uma perspectiva construída com o intuito de expandir a esfera da moralidade e da justiça a todos os integrantes da sociedade, sejam eles seres humanos, animais não humanos ou até mesmo seres inanimados (DIAS, 2015), apta a discutir o conjunto de problemas, riscos e impactos multiespécies relacionados a esta atividade. Aliado a isto, Rafael van Erven Ludolf desenvolve, desde 2017, uma trajetória contínua de pesquisa sobre a exportação de animais vivos, a partir das perspectivas do direito animal, ética animal, antiespecismo, anticolonialismo e dos estudos críticos animais. Sua investigação teve início no Mestrado, seguiu no Doutorado, incluindo estágio doutoral na Universidade de Santiago de Compostela (Espanha), onde analisou as exportações espanholas de animais vivos, e atualmente no Pós-doutorado.

    As atividades do projeto incluem a produção de boletins semestrais (no mínimo) com informações acessíveis ao público em geral, com dados atualizados sobre o cenário nacional da exportação de animais vivos, incluindo análise das condições de bem-estar animal, dos impactos socioambientais, da mobilização social, da legislação e outros aspectos relevantes para compreender a complexidade dessa prática, os quais são disponibilizados no endereço eletrônico do Laboratório de Ética Ambiental e Animal (LEA).

    Espera-se que estes boletins possam aumentar a conscientização pública sobre as injustiças multiespécies inerentes a exportação de animais vivos e promover uma perspectiva da moralidade e de justiça mais inclusiva aos animais não humanos.

    Boa leitura!