Boletins

  • julho 2025 | número 1

    Monitoramento da Exportação de Animais Vivos do Brasil


    Um panorama geral

    A exportação marítima de animais vivos é uma das práticas mais controversas do agronegócio. Envolvendo o transporte de milhões de indivíduos animais por longas distâncias em condições frequentemente degradantes, essa atividade mobiliza, hoje, debates éticos, jurídicos, sanitários, ambientais e sociais em diversos países. Apesar da crescente oposição internacional — que já levou à proibição dessa prática em países como Nova Zelândia, Reino Unido, Índia e Luxemburgo — o Brasil segue como um dos maiores exportadores de sujeitos bovinos vivos do mundo, com operações em expansão.

    Diante da carência de estudos científicos, da escassez de dados públicos acessíveis e da urgência dos impactos socioambientais causados por essa atividade, nasce o projeto Monitoramento da Exportação de Animais Vivos do Brasil, desenvolvido por Rafael van Erven Ludolf, no âmbito do “Pós-Doutorado Nota 10” (Edital nº 17/2024) financiado pela FAPERJ – Fundação Carlos Chagas Filho de Amparo à Pesquisa do Estado do Rio de Janeiro (Processo SEI-260003/001285/2025), sob supervisão da Professora Maria Clara Dias, vinculado ao Programa de Pós-Graduação em Filosofia (PPGF) da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ).

    O objetivo do projeto é monitorar, analisar, gerar e divulgar informações sobre a exportação de animais vivos do Brasil, para servir de base para políticas públicas, pesquisa acadêmica e tomada de decisões em diversas esferas. A abordagem é interdisciplinar, abrangendo discussões da bioética, ética aplicada, saúde coletiva, ética ambiental, ética animal, direito animal, estudos críticos animais, decoloniais e outros, e envolve pesquisa de campo para registro das condições de transporte dos animais e seus impactos socioambientais, nos portos brasileiros autorizados a exportar animais vivos.

    Como caminho teórico-metodológico, adotou-se a Perspectiva dos Funcionamentos (PdF), da Professora Doutora Maria Clara Dias, orientadora/supervisora deste projeto, uma perspectiva construída com o intuito de expandir a esfera da moralidade e da justiça a todos os integrantes da sociedade, sejam eles seres humanos, animais não humanos ou até mesmo seres inanimados (DIAS, 2015), apta a discutir o conjunto de problemas, riscos e impactos multiespécies relacionados a esta atividade. Aliado a isto, Rafael van Erven Ludolf desenvolve, desde 2017, uma trajetória contínua de pesquisa sobre a exportação de animais vivos, a partir das perspectivas do direito animal, ética animal, antiespecismo, anticolonialismo e dos estudos críticos animais. Sua investigação teve início no Mestrado, seguiu no Doutorado, incluindo estágio doutoral na Universidade de Santiago de Compostela (Espanha), onde analisou as exportações espanholas de animais vivos, e atualmente no Pós-doutorado.

    As atividades do projeto incluem a produção de boletins semestrais (no mínimo) com informações acessíveis ao público em geral, com dados atualizados sobre o cenário nacional da exportação de animais vivos, incluindo análise das condições de bem-estar animal, dos impactos socioambientais, da mobilização social, da legislação e outros aspectos relevantes para compreender a complexidade dessa prática, os quais são disponibilizados no endereço eletrônico do Laboratório de Ética Ambiental e Animal (LEA).

    Espera-se que estes boletins possam aumentar a conscientização pública sobre as injustiças multiespécies inerentes a exportação de animais vivos e promover uma perspectiva da moralidade e de justiça mais inclusiva aos animais não humanos.

    Boa leitura!